PORQUE ALGUMAS REGRAS ALIMENTARES DEVEM ACABAR


Em outro texto (esse) contei um pouco sobre como eram as refeições na minha casa quando eu era pequena – sempre meio bagunçadas. Talvez por isso, e para o momento da refeição ser mais organizado, prazeroso e saudável, a sociedade criou diversas regras a serem seguidas pelas crianças quando à mesa.

Contudo, algumas dessas regras que dizem respeito à alimentação não são nem um pouco saudáveis. Na verdade, várias regras alimentares não-saudáveis são praticadas diariamente por muitas famílias.

Vou listar aqui algumas dessas que eu não pretendo aplicar com meus filhos e, cá entre nós, acho que ninguém deveria.

Vamos lá:

Limpe o prato.

limpe_o_prato

Todos já ouvimos essa frase, e muitos de nós crescemos com ela. Limpe o prato significa coma tudo. O problema dessa regra é que ela ignora completamente o apetite. E se o seu filho comer metade do prato e já estiver satisfeito? Você acha que ele deve continuar comendo até raspar o prato?

Se você acha que ‘sim, claro que meu filho tem que comer tudo que tem no prato dele’, gostaria que você repensasse um pouco…

Estudos mostram que crianças que são incentivadas a limpar o prato podem ter uma desconexão com seus reguladores internos do apetite, perdendo a habilidade de perceber quando estão satisfeitos, e acabam comendo mais do que o corpo deles precisa.

Se, enquanto crianças, eles perderem esse poder de auto regulação e de percepção, fica difícil entrar em contato novamente com esses sinais.

Coma isso e você pode comer ‘aquilo’.
regras_alimentares

Recompensar as crianças com um alimento cobiçado, como um doce, chocolate ou sobremesa, é uma ferramenta muito usada pelos pais para motivar seus filhos a comer vegetais, frutas, ou outros alimentos que consideram saudáveis.

Um ponto interessante é que os estudos mostram uma situação inversa. Quando os pais usam alimentos gostosos como recompensa, as crianças acabam dando muito mais valor para esses alimentos (doces, chocolates e sobremesas) do que para os mais saudáveis. Em outras palavras, a recompensa ‘ganha’ dos alimentos saudáveis que os pais estão tentando instigar as crianças a comerem, como consequência algumas delas vão acabar comendo mais do que precisam fisiologicamente só para ganhar a tal da recompensa.

Engula isso (ou, não cuspa a comida!).
regras_alimentares

Vamos esclarecer uma coisa, experimentar não é a mesma coisa que comer. Você pode experimentar um alimento lambendo-o, beijando-o, colocando o alimento na boca e tirando-o de lá, mastigando um pouquinho e depois cuspindo, ou qualquer combinação dessas ações.

Para algumas crianças, principalmente as mais receosas, uma das melhores maneiras de se sentir confortável e se familiarizar com os alimentos é colocando-os na boca, explorando-os e depois devolvendo-os no prato.

Forçar ou pressionar as crianças a engolir a comida pode ter consequências negativas em longo prazo.

Termine de comer os verdinhos (ou outro alimento).

regras_alimentares

Parecido com o desfecho do ‘limpe seu prato’, falar para as crianças comerem todos os verdinhos (ou qualquer outro alimento) torna-as menos propícias a escolherem esses alimentos no futuro além de aumentar os riscos delas perderem o contato com os sinais de fome e saciedade que o corpo emite. Quando isso acontece, as crianças podem perder a sensação de plenitude, que é de extrema importância para ajuda-los a perceber quando devem parar de comer, afim de manter um corpo e um peso saudável.

Resumindo, terminar de comer qualquer alimento além do apetite não é uma prática recomendada.

Só mais duas colheradinhas.

regras_alimentares

Os pais costumam se preocupar muito se seus filhos estão comendo o suficiente, podendo acabar encorajando as crianças a dar mais uma colherada (ou duas, ou três). Por mais que eles não estejam pedindo para as crianças limparem o prato ou terminarem alguma comida em especial, ainda estão incentivando seus filhos a comerem mais ou a experimentarem um alimento quando claramente não estão com vontade.

Se coloque no lugar dos seus filhos. Se você for pressionado a tomar uma decisão antes de poder analisar as duas partes ou de estar pronto pra isso, da vontade de sair correndo, não é mesmo? Com as crianças acontece a mesma coisa.

Ou seja, pressionar as crianças a comerem, frequentemente acaba afastando-as de se alimentarem ou experimentarem novos alimentos.

Não pegue a comida com as mãos.

regras_alimentares

Manusear os alimentos é uma experiência sensorial. Muitas crianças pequenas tem uma alimentação melhor quando podem explorar os alimentos com suas mãozinhas antes de comê-los. Um exemplo disso é a técnica BLW (texto bem completinho sobre o assunto aqui).

Enquanto você deve se esforçar para ajudar os pequenos a aprenderem a usar talheres, você também deve reconhecer que isso leva algum tempo. Mantenha suas expectativas realistas, deixe seus filhos usarem as mãos de vez em quando e aos poucos vá ensinando-os como usar os talheres.


Resumo da ópera – pais, mães, avós e cuidadores, parem de se preocupar tanto com a alimentação dos pequenos. Eles nascem com total consciência do tamanho da sua fome e de quando estão satisfeitos. Somos nós que corrompemos isso quando tentamos insistir que comam mais uma colherada, terminem determinado grupo alimentar ou limpem o prato.

Vamos lembrar que as crianças, apesar de parecerem, não são apenas pequenos adultos. Elas sentem diferente, tem medo, receios, e muitas vezes algum comportamento inadequado dos pais (as vezes nem tão inadequado assim) pode traumatizar as crianças por anos a fio. (Recomendo fortemente a leitura desse texto, que explica um pouco das diferenças entre a maneira de se alimentar dos adultos e das crianças).

Espero que vocês consigam refletir em cima disso, e tentem eliminar essas frases que não costumam trazer nada de bom. Sempre se coloque no lugar das crianças e confie que elas não estão passando fome.

Beijo grande e bom feriado a todos!!

Leave a comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *