REFEIÇÃO SEM CONFUSÃO 1


Tenho dois irmãos mais velhos e sempre que lembro os nossos momentos de refeição há 15 ou 20 anos penso: que bagunça. Minha irmã sempre foi muito seletiva, dependendo do cardápio, minha mãe tinha que preparar algo diferente pra ela. Meu irmão, sempre reclamava de alguma coisa, e pra piorar o clima na mesa, ficava enchendo eu e a minha irmã. Aí era o tempo inteiro a mamãe tentando nos policiar: come de boca fechada, tira o cotovelo da mesa, não fala de boca cheia, não se canta na mesa…

Nossa como educar é difícil. Se já é difícil ensinar as ‘boas maneiras’, a etiqueta na mesa, o horário de comer, o horário de brincar, imagina, além disso, ensinar seus filhos a se alimentarem de forma saudável e balanceada. Um desafio e tanto!


boas maneiras à mesa

Por isso, muitas famílias passam por situações estressantes. Os almoços e jantares realizados em conjunto deixam de ser um momento prazeroso de comunhão pra virar um momento de confusão e brigas. E isso só faz mal.

As brigas alteram o humor dos pais e dos filhos, e nada altera tanto o apetite como o nosso humor. Um pode perder completamente a fome, e o outro devorar três pratos em cinco minutos. Além disso, sempre que tem uma briga, alguém ‘ganha’ e alguém ‘perde’.

Quando, no momento da refeição, é feita a vontade dos pais ou a vontade das crianças, a alegria e a conexão de comer juntos vai embora. Alguns pais podem até se sentir bem ao ‘ganhar a briga’ e fazerem seus filhos comerem como eles gostariam, mas o que será que a criança está sentindo ao comer os verdinhos só porque você mandou? Querendo ou não, você está ensinando pro seu filho que ele deve fazer coisas que não gosta (se sacrificar) para agradar os pais (e os outros).

Se você obriga-los a comer legumes, verduras e frutas, provavelmente eles irão associar estes alimentos com algo ruim (desprazer, castigo, briga, chantagem) e podem se tornar adolescentes e mesmo adultos menos propícios a escolher estes alimentos.

criança come bem

Quando seus filhos reclamarem de algum alimento oferecido, diga que ele não precisa comer. Dê um pouco mais de liberdade pra eles. Tente sempre oferecer um ou outro alimento que eles gostem, assim, eles se sentem mais ‘no controle’, a tensão é dissipada e as chances deles experimentarem determinado alimento aumentam.

Os pais já são responsáveis por planejar o cardápio da semana, fazer o mercado, preparar a comida e servir de maneira balanceada. Se, além disso, ainda assumirem a responsabilidade dos filhos de escolher o que e quanto vão comer o processo todo se torna mais cansativo.

Permitir que as crianças realizem essas escolhas não é difícil apenas para os pais, mas também pras crianças. E se elas só quiserem comer pão? E se sentirem fome na hora de ir pra cama?

Como já foi dito em outro post (aqui), a velocidade de crescimento varia muito conforme a idade da criança, o que interfere diretamente no apetite. É normal crianças que sempre comeram bem passarem por uma fase de comer igual passarinho. Não há motivo para desespero. É fisiológico. Se nós que somos adultos não temos o mesmo apetite todos os dias, porque exigimos isso das crianças?

criança se servindo de comida

Durante a fase pré-escolar, as crianças começam a tomar iniciativa nas tarefas diárias, inclusive na alimentação, e estão mais propensas a se sentirem bem quando são encorajadas a participar. Os pais escolheram os alimentos disponíveis e, a partir desses, os filhos devem escolher quais eles querem comer e em qual quantidade. As crianças que já recebem seus pratos prontos, com quantidades e qualidade inadequadas ao seu apetite, podem desenvolver algum tipo de sentimento negativo resultando em menos confiança e prazer na alimentação.

Com uma noção mais profunda sobre alimentação e nutrição infantil, os pais podem abandonar as brigas durante a refeição e confiar que seus filhos vão melhorar a aceitação alimentar em seu próprio ritmo, abraçando assim os momentos de refeição em família como forma de apoiar as crianças nessa empreitada.

Dá próxima vez que seu filho disser que não quer comer, responda que ele não precisa comer, mas precisa sentar-se à mesa com o resto da família, afinal, a refeição também é um momento de confraternização. Muitas vezes, as crianças não querem se alimentar apenas para poder continuar brincando. Ao perceber que vão ter que sentar-se à mesa de qualquer jeito, as chances delas mudarem de ideia ou de abrirem o apetite são grandes.

criança comer bem

Apesar de ser assustador para muitos pais, autorizar um filho a não comer se ele não quiser é uma boa maneira de começar a transformação durante as refeições.

Sobre as boas maneiras à mesa, é importante ensinar desde pequenininhos que não devem gritar, andar ou correr ao redor da mesa, brigar por alimentos ou roubar do prato de outras pessoas, mastigar de boca aberta e falar/cantar com a boca cheia ou usar os pratos e talheres como instrumentos musicais. Sempre tente manter a calma e explique a importância desses comportamentos. Quanto mais crianças na mesa, mais difícil manter tudo organizado. É importante lembrar que muitas vezes os gritos e apelos dos pais são mais estressantes que a excitação das crianças. Tente separar um ou dois dias da semana pra chamar mais a atenção deles, ou combine de ensinar e corrigir os erros durante o almoço, e deixar que eles mostrem o que aprenderam no jantar.

Por refeições mais unidas e prazerosas!


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