Na minha época de escola, não existia a nomenclatura bullying. Tinham os que zoavam, inventavam apelidos de mau gosto e faziam piadinha sem graça, e os outros que ou resistiam a essas provocações bravamente, no melhor estilo ‘entra por um ouvido e sai pelo outro’, ou choravam, esperneavam e iam reclamar na diretoria.
Sem julgamentos, cada um lida de um jeito.
Por ser filha caçula, sofri bullying até dos meus irmãos (com amor, é claro). Olhando pra trás, acho que foi de certa forma construtivo, aprendi a me aceitar mais e a ligar menos pro que as pessoas pensam e falam sobre mim. Mas isso não quer dizer que foi fácil.
Hoje, todo mundo sabe o que é e, mais do que isso, são contra o bullying. Ninguém quer seus filhos sendo rotulados de gordinhos, quatro olhos, ou qualquer coisa pior, e também não querem que saiam por aí rotulando os outros.
Estava pensando nisso hoje e me dei conta que, às vezes os próprios pais rotulam seus filhos em questões alimentares, usando frases como:
“Ah, o meu filho é muito seletivo pra comer.”
“O meu filho é obcecado por comida.”
“Meu filho não come nada.”
“Se eu deixar, meu filho só come porcaria.”
“Nem adianta tentar, meu filho não come isso.”
“Gostaria tanto que meu filho comesse mais saudável.”
Quando essas afirmações são feitas, é como se fossem verdades absolutas. Quanto mais as crianças ouvem essas frases, maior as chances delas assumirem essa personalidade. Como se acreditassem que não podem ser nada mais além do rótulo dado pelos pais (familiares, cuidadores). Além disso, os pequenos podem acabar perdendo as esperanças de um dia mudar, de conseguir agradar aos pais, atender às suas expectativas, podendo, eventualmente, atrapalhar em sua autoestima.
Tenha um pouco de fé. Acredite que você está fazendo o que pode para ajudar seu filho a melhorar a relação dele com os alimentos. Acredite que essa fase ruim vai passar, que eles são capazes de mudar, e que podem te surpreender. Espere sempre o melhor. Espere que seus filhos aprendam a fazer escolhas mais saudáveis, e saiba que mesmo assim, eles não vão escolher SEMPRE o mais saudável. E isso é normal.
Não perca as esperanças de primeira, não assuma que seu filho vai comer dessa maneira até o fim da vida. Tente estratégias para aumentar a variedade de alimentos que ele gosta. Leve seu filho pra cozinha, plante uma mudinha de um tempero, mude a consistência da preparação, o jeito de cortar os legumes, o enfeite do prato.
Seja persistente, inovador e consistente ao oferecer uma variedade de alimentos diariamente. E, mais do que isso, seja o exemplo. Se alimente bem, mostre o prazer que a comida pode trazer, ensine seus filhos a saborearem cada mordida.
Evitem rotular. Principalmente na frente deles. E eu digo isso no lado positivo também. Por exemplo, seu filho come super bem, gosta de tudo que você coloca no prato e experimenta novos alimentos sem problema. Aí você toda orgulhosa fala para todos que passam que seu filho come de TUDO. Imagina como essa criança vai se sentir quando não gostar de algum alimento? O medo da rejeição, de quebrar aquela imagem construída de que come super bem, de decepcionar seus pais…
Pense um pouco nisso, e se quiser saber mais sobre como melhorar a alimentação dos pequenos de uma olhada nesses textos:
Erros Alimentares que as Crianças Precisam Cometer; Regras Alimentares que Devem Acabar; Como Você se Sentiria Diante de um Prato de Insetos?; Neofobia Alimentar; Dividindo as Responsabilidades Alimentares com as Crianças; Pai e Mãe – os modelos dos filhos; Como Administrar Guloseimas
Beijos e boa semana a todos,
Lu