Em diversos momentos da vida, fui lembrada que o problema está sempre na expectativa. Como por exemplo, esperar que faça dias lindos de sol quando eu tirar férias. E aí eu chego lá e só chove. Minhas expectativas são frustradas, pois a realidade não condiz com o que eu esperava acontecer. Consequência? Eu fico triste, mal humorada, desgostosa com a vida, achando que o mundo é injusto e que não deveria chover bem nas minhas férias.
Quando na verdade, eu poderia ter ficado feliz que choveu. Poderia ler livros, dormir até mais tarde, curtir o som da água caindo… Mas como eu esperava que fizesse sol, e me planejei para o sol, fica difícil curtir essa ‘mudança nos planos’.
Tá, Luiza. Mas por que raios você tá falando disso?
Porque na maternidade, muitas vezes, o problema está na expectativa. Outro dia li um texto sobre como a desconstrução da maternidade romântica é nosso papel.
Sabe aquelas mães perfeitas, angelicais, sempre sorrindo, que nunca erram? Elas não existem! Aliás, se existe um ser que tem dúvidas, que se sente perdido, desesperado, e que se culpa muito e por tudo, são as mães. Principalmente as de primeira viagem.
Não é fácil ser mãe. A maior responsável pela vida e bem estar daquele serzinho que você ama intensamente com cada célula do seu corpo. E quando acreditamos nessa maternidade romântica, geramos expectativas absurdas que não se assemelham em nada à realidade. E aí quem aparece? A famosa frustração, que pode levar a um excesso de culpa (eu sou a pior mãe do mundo) e até a uma depressão.
Por exemplo, a introdução alimentar é uma fase que gera muita expectativa. Afinal, foram seis meses esperando ansiosamente o dia de poder oferecer algo diferente de leite materno para o bebê.
Você passa os dias planejando cada refeição e as noites sonhando com todas as conquistas – isso quando consegue dormir. Já sabe o cardápio inteirinho do primeiro mês, já fez a lista de compras, pensou na apresentação do prato e preparou a câmera para registrar tu-di-nho.
Mas quando chega na hora H, a realidade não é bem como foi planejada.
No primeiro dia a criança não da muita bola pra comida, mal abrindo a boca. No segundo, ela até aceita uma colherada, mas logo depois cospe e acaba derrubando com seus bracinhos o prato inteiro no chão. No terceiro dia, abre um berreiro assim que é colocada no cadeirão.
E essa mãe, que se dedicou, planejou, comprou, colocou todo o seu amor ali, não conseguiu alimentar seu bebê. Pronto, três dias foram suficientes para desespera-la, que liga chorando pro pediatra e diz que seu filho não come e que vai morrer de fome, tadinho.
Alguns fatos importantes a serem considerados aqui:
¤ Até o bebê completar 1 ano de vida, o maior ‘sustento’ dele vem do leite. Enquanto essa criança estiver mamando bem (seja leite materno ou fórmulas infantis), seu desenvolvimento está garantido.
¤ As crianças nascem sabendo regular muito bem sua fome e saciedade. Ou seja, eles comem exatamente a quantidade que precisam para suprir suas necessidades diárias. Se não comerem tão bem em determinado horário, compensam na próxima refeição. Não há motivo para desespero.
¤ Crianças são, essencialmente, pequenos adultos. É normal ter momentos em que comemos mais, e momentos em que comemos menos. As vezes estamos preocupados e inapetentes, outras vezes queremos comer apenas doces e alimentos gordurosos e tem dias que uma salada e um grelhado caem como uma luva. Se nós, adultos, podemos escolher ter atitudes alimentares diferentes ao longo dos dias, por que as crianças deveriam comer sempre da mesma maneira?
Por isso, volto ao início, o problema está na expectativa dos pais. De que vai ser tudo fácil, lindo, sem bagunça, sem sujeira e sem resistência. De que o amor é incondicional e de que você nunca vai perder a paciência (ou a esperança) com o seu filho.
Muitas vezes os problemas alimentares estão completamente ligados à expectativa. O que eu quero dizer é que talvez nem haja um problema.
Ao invés de esperar que seu filho coma um pratão cheio logo no início da introdução alimentar, porque não começar com um prato pequenininho, com uma ou duas colheres de cada alimento?
Quando a criança vê um prato muito grande, ela já desanima. Como se soubesse que não vai dar conta, e perde as esperanças antes de começar. Se seu filho comer todo o mini-prato, você pode indagar se ele quer mais, ou oferecer a fruta e, na próxima refeição, fazer um pratinho um pouco maior. Sempre evoluindo gradativamente. Nesse post tem mais algumas dicas sobre o tamanho das porções oferecidas às crianças.
O mais importante de tudo é confiar no seu filho e aceitar que, se você incentiva-lo com cores, formatos, sabores e texturas diferentes, eventualmente ele vai se alimentar melhor.
E, pra finalizar, um pedido:
Tente não cair na tentação de distrair seu filho com a televisão, o tablet, ou o que quer que seja para que ele abra e feche a boca sem nem perceber que algo entrou.
Quando enganamos os pequenos, estamos ensinando eles a comerem sem prestar atenção (mindless eating), o que pode trazer inúmeros problemas a médio e longo prazo, como uma desconexão com os sinais de fome e saciedade, um comer compulsivo, comer emocional, obesidade, hipertensão, diabetes, enfim, diversas doenças ligadas à alimentação.
Espero que eu tenha ajudado, beijo grande,
Lu.