MÃE! POSSO COMER NA SALA?


Quando eu era pequena (e o dólar custava um real) meus pais viajavam bastante, e eu sempre acabava ficando na casa da minha avó materna. Tenho muitas lembranças boas dessa época, mas uma das que mais marcaram é que “a vovó deixava eu comer assistindo televisão”. Lembro principalmente de sentar no chão da sala e comer em uma bandeja…Como vó gosta de mimar a gente, né?

Comer_assistindo_tv

Mas hoje não vou falar sobre as influências das avós na alimentação dos pequenos, e sim sobre “comer assistindo televisão”, que pode ser comer na frente do computador (isso vale pra vocês também, ouviram mamães?), do vídeo game, do tablet…

Incrível pensar que muitas famílias tem o hábito de comer assistindo jornal ou novelas. Tem gente que compra uma televisão nova só pra colocar na cozinha ou na sala de jantar e não perder a programação porque é hora do jantar. E já ouvi relatos de muitas famílias que nem tem mesa de jantar, pois o costume é comer no sofá mesmo!

Então vamos lá, exemplo simples que eu adoro dar pros meus pacientes mirins.

PIPOCA. Pensa na pipoca. Aquele balde cheio, quentinho, salgadinho, delícia pra se afundar no sofá e assistir um filme. Comemos facilmente um balde né? E se no meio do filme alguém se voluntariar pra fazer mais um, provavelmente comeremos mais!

Agora imagina você sentando à mesa, pode ser até pra fazer um lanche, com um balde de pipoca na sua frente. Acredito que poucas são as pessoas que o devorariam. Por quê? Qual será o mistério do universo? O que tem na pipoca do cinema que a faz tão especial e acabamos com o balde antes mesmo das luzes se apagarem e o filme começar?

Simplesmente porque sentado à mesa, independente de ter companhia e conversas, você está prestando atenção na sua comida. No seu prato. O motivo de você estar sentado lá é a refeição. Diferente do que acontece quando você está assistindo televisão (ou no computador conversando, trabalhando, jogando) e por um acaso do destino, a comida também está ali. E aí, no sofá, algo acontece que sua mão cria vida, e sozinha ela pega a pipoca e coloca na sua boca, você mastiga e mal engoliu quando sua mão já está chegando à boca novamente, com um novo punhado da pipoca. Seu cérebro não percebe que você está comendo, afinal de contas, você está assistindo televisão. A comida é mera coincidência.

Vem daí a importância de sentar-se à mesa, preferencialmente com outros membros da família (pai, mãe, irmãos) e fazer da refeição um momento de confraternização, quando todos estão juntos, conversando sobre seu dia.  Afinal de contas, cada um tem seu computador, seu celular, seu quarto, se não impormos um momento para a família sentar-se junta, a noção de família se perde, não é mesmo?

E isso vale para todas as idades! Se o pai não-pode-perder-o-jornal, vamos fazer o jantar mais cedo? Ou mais tarde? Se as crianças não-podem-perder-o-desenho vamos ver se conseguimos gravar? Ou terminar a refeição antes de começar o programa?

Muitas vezes, ao amamentar ou oferecer refeições pro bebê, as mães (babás, cuidadoras) estão assistindo televisão! Então elas estão, desde o começo da vida de seus filhos, ensinando e acostumando-os com refeições barulhentas e conturbadas. Por mais que eles estejam de costas pra TV e não estejam vendo as imagens. Estão ouvindo. E aí passam propagandas, o som aumenta, começam músicas… É estressante!

Tem hora que é de assistir televisão (e sabemos que na sociedade moderna tem horas até demais dedicadas a essa atividade) e tem hora que é de comer. E essas duas coisas não deveriam se misturar.

Além disso, estudos mostram que a família é a maior fonte de conhecimentos nutricionais das crianças e sugerem que as refeições realizadas em família podem agir como fator protetor para muitos problemas nutricionais e de saúde durante a infância e adolescência.

E mesmo assim, você vai deixar seus filhos comerem em frente à televisão sem mastigar direito, as vezes comendo rápido de mais, outras devagar de mais tamanha hipnose que a televisão causa?! Não, vamos nos sentar juntos, apreciar a refeição e o contato com as pessoas ao redor, afinal, tem coisa mais gostosa que família?