Acredito que todo mundo conhece alguém que se preocupa de mais com a alimentação. Aquela pessoa que é tão certinha, tão regrada, que chega a dar uma raivinha, e você fica se perguntando ‘como ela consegue’? Sabe, aquele que só compra alimentos orgânicos, frescos e saudáveis, pesa cada ingrediente antes de colocar na panela, exclui da dieta qualquer coisa que não considera ‘perfeito’ e perde boa parte do seu dia planejando, comprando, preparando e confeccionando os alimentos que vai consumir?
Então, pode ser que essa pessoa sofra de ortorexia nervosa.
A ortorexia nervosa é um distúrbio do comportamento alimentar relativamente novo, onde há uma fixação pela saúde alimentar, caracterizada pelo consumo restrito de alimentos politicamente corretos e saudáveis. Na ortorexia, os indivíduos consomem exclusivamente alimentos procedentes da agricultura ecológica, livres de componentes transgênicos, artificiais, pesticidas ou herbicidas, constituindo, portanto, uma obsessão e preocupação pelo saudável, natural ou biológico.
O objetivo dos que sofrem desse comportamento é ingerir alimentos que contribuam para o bom funcionamento do organismo e que ‘libertem o corpo e a mente de impurezas’, a fim de alcançarem um corpo saudável e maior qualidade de vida. Além da intensa preocupação com o que se come, apresentam certo desprezo pelos que não seguem os mesmo padrões alimentares – super elevados – que eles.
Na ortorexia o paciente quer, inicialmente, melhorar sua saúde, tratar uma enfermidade ou perder peso, mas a ideologia seguida faz com que, na procura por um corpo saudável, elimine-se tudo o que é “nefasto” ou “artificial”. Assim, a alimentação passa a ser a preocupação central do dia a dia, esquecendo-se do prazer em comer.
Com essa busca incessante da ‘pureza alimentar’, os indivíduos podem se tornar muito seletivos em relação aos alimentos que ingerem, e acabam optando por condutas alimentares cada vez mais restritivas, excluindo diversos grupos alimentares e colocando em risco a própria vida.
De maneira geral, são pessoas que despendem muito tempo e esforço em torno do ato de comer. Esse comportamento pode gerar conflitos e dificuldades de relacionamento, levando ao isolamento social na luta por uma condição alimentar perfeccionista. Isso acontece porque esses indivíduos se sentem na obrigação de esclarecer, elucidar e convencer familiares e amigos acerca dos prejuízos à saúde que, sob sua perspectiva, seriam causados pelos produtos processados, pesticidas e fertilizantes artificiais.
Comer fora de casa é considerado um problema. Evitam reuniões sociais e jantares para não “cair na tentação” de ingerir outro tipo de produto e sentem grande culpa ao quebrar as regras. Por outro lado, têm uma sensação confortável ao fazer um prato elaborado exclusivamente com produtos orgânicos, ecológicos, bio ou com determinados certificados de salubridade. Acabam se isolando para conseguir se alimentar dessa forma ‘saudável’ ou com alimentos considerados puros. A ‘dieta saudável’ acaba tomando conta da sua vida.
A principal diferença entre a ortorexia nervosa e outros transtornos alimentares como a anorexia e a bulimia, é que no caso da ortorexia a preocupação não está na quantidade de alimento consumido, e sim na qualidade deles.
O maior grupo de risco para a ortorexia nervosa são pessoas meticulosas, organizadas e com uma grande necessidade de auto-cuidado ou proteção. Esse grupo inclui mulheres, adolescentes, adeptos de dietas da moda, vegetarianos, veganos, artistas, médicos, nutricionistas, esportistas e também atletas que se dedicam ao fisiculturismo e atletismo.
Esse comportamento alimentar ainda não é muito conhecido, tanto seu nome quanto os prejuízos que podem causar na saúde do indivíduo que sofre de ortorexia. Um dos maiores problemas é que a pessoa não procura ajuda porque acredita que está fazendo a escolha certa: sendo saudável.
Mas isso é ser saudável?! (uma das melhores definições, em minha opinião, está aqui).
Os distúrbios alimentares costumam aparecer na adolescência. Fique de olho, e se notar uma mudança no padrão alimentar dos seus filhos, não hesite em conversar com eles, tentar entender o que está acontecendo e o que os motiva a fazer determinadas escolhas. Se o novo comportamento persistir, procure ajuda com um profissional da área.