Essa semana rolou uma polêmica nas redes sociais sobre as carnes vermelhas e processadas que, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), estão associados ao risco de desenvolver câncer.
Muitos amigos e conhecidos vegetarianos e/ou veganos postaram alguma matéria relacionada, comparando o risco que o cigarro traz à vida com o risco que o consumo desses alimentos traz. Algumas pessoas me procuraram para saber o que eu achava disso tudo, se era verdade, se era ‘nutricionismo’ = palavra que usamos para definir o terrorismo nutricional.
Enfim, resolvi pesquisar sobre o assunto para tentar esclarecer um pouquinho as coisas.
FATO:
A Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer (IARC), uma agência da OMS, colocou o consumo excessivo de carnes processadas, como embutidos ou frios, no Grupo 1 de risco de levar ao desenvolvimento de câncer, principalmente o colorretal. Também fazem parte da categoria 1 cigarros, bebidas alcoólicas, amianto e exposição solar, por exemplo. Porém, segundo especialistas, isso não significa que o consumo de carnes processadas é tão perigoso quanto o cigarro ou o álcool.
A definição do IARC para carne processada inclui produtos “transformados por salgamento, curagem, fermentação, defumação e outros processos para realçar sabor ou melhorar a preservação”.
CONSIDERAR:
O consumo excessivo pode levar ao desenvolvimento de câncer. O IARC revisou mais de 800 estudos sobre o assunto e concluiu que o consumo de uma porção de 50g por dia de carne processada aumenta o risco de câncer colorretal em 18%. Para se ter uma ideia, uma salsicha pesa 50 gramas, três fatias finas de presunto pesam 40 gramas, sete fatias de salame pesam 40 gramas e uma linguiça pode chegar a 100 gramas.
Você que come um misto quente esporadicamente, sai pra apreciar um cachorro quente uma vez no mês e adora um churrasco com os amigos no feriado, não precisa se desesperar.
De acordo com um estudo da OMS, 34 mil pessoas morrem por ano devido ao consumo de carne processada – é menos que as 200 mil mortes relacionadas à poluição, as 600 mil mortes relacionadas ao álcool e que o milhão por causa do cigarro.
Segundo especialistas, o consumo esporádico e em pequenas quantidades de carne processada não leva a um aumento do risco de câncer comparável ao tabaco. Conforme o Cancer Research UK, enquanto 86% dos casos de câncer de pulmão estão ligados ao uso de tabaco, 21% dos casos de câncer de intestino estão ligados ao consumo de carne processada e vermelha. Uma diferença considerável.
“Para um indivíduo, o risco de desenvolver câncer colorretal devido ao consumo de carne processada continua pequeno, mas o risco aumenta com a quantidade consumida” afirma o chefe do programa de monografias do IARC, Dr. Kurt Straif. “Tendo em vista o grande número de pessoas que consome carnes processadas, o impacto global sobre a incidência de câncer é importante para a saúde pública.”
Ou seja, não dá pra comparar o risco de câncer do cigarro com o risco do consumo desses alimentos. Até porque quantos cigarros um fumante consome por dia? E quantas fatias de bacon ou presunto uma pessoa come por dia?
FATO:
A carne vermelha – tecido muscular de boi, porco, carneiro, bode e cavalo – foi classificada como um carcinógeno (produto capaz de provocar câncer) “provável” e entrou na lista do grupo 2A, que contém alguns inseticidas, frituras em alta temperatura e até o trabalho em horários irregulares.
CONSIDERAR:
A classificação não significa que as pessoas devem parar de comer carne. Afinal, a carne vermelha fresca, não processada, é um componente importante da alimentação brasileira, e seu consumo adequado traz benefícios à saúde. O ideal seria reduzir esse consumo. Há quem diga que a quantidade segura é de 70g/dia para homens e 55g/dia para mulheres, outra fonte citou como seguro 500g/semana.
Eu não sou muito das quantidades certinhas, pessoas pesando seu bife, mas acredito que cada um faz o melhor que pode. Se hoje você come carne vermelha todos os dias, que tal diminuir para 5x/semana? A mudança deve ser gradual, as pessoas precisam se acostumar com a nova rotina, com os novos alimentos. Conhecer outras receitas, outros sabores, e descobrir que são tão bons, ou melhores, dos que os já conhecidos.
O que muita gente tá esquecendo de considerar, é que o exercício físico e o consumo de hortaliças, frutas e fibras tem impacto positivo na prevenção do câncer de intestino, podendo atenuar o impacto negativo causado pelo consumo de carnes processadas e da carne vermelha.
Ou seja, como sempre a solução é MODERAÇÃO, equilíbrio. Com eles, tudo pode.
Se você tem, no geral, uma alimentação balanceada, com cereais, frutas, verduras, legumes e leguminosas, não é um alimento processado vez ou outra que vai acabar com a sua microbiota intestinal.
Minha mãe é vegetariana há uns 15 anos, acho que por causa disso eu não como carne (peixe, frango, ou qualquer outro animal) diariamente. Com ela aprendi muitas receitas, sabores e combinações novas. Não quer dizer que eu não goste de comer um churrasco de vez em quando, ou que eu recuse um peixe na praia ou um frango assado, mas simplesmente não é imprescindível pra mim.
Eu não sou contra comer carne, nem contra o vegetarianismo. Respeito as decisões de cada um. Não compro salsicha, linguiça, salame, mortadela ou presunto em casa, mas às vezes eu como um cachorro quente, sem achar que vou morrer, sem me sentir culpada. O segredo é conhecer seus limites e respeitar as suas vontades.
O IARC é uma organização de pesquisa que avalia a evidência sobre as causas do câncer, mas não faz recomendações de saúde. As Monografias do IARC são, no entanto, muitas vezes usadas como base para orientações e recomendações afim de minimizar os riscos de câncer tanto em políticas nacionais como internacionais.
Achei muito interessante essa polêmica, principalmente pra CONSCIENTIZAR as pessoas. Alertar, informar. Já ouvi muita história de criança que só comia salsicha, e a mãe deixava, sem saber o mal que poderia estar fazendo. Afinal, é barato, super fácil de fazer e as crianças adoram!
Principalmente na população mais carente do Brasil, é muito frequente o consumo de embutidos. Espero que os governos decidam incluir esta nova informação, sobre os perigos do câncer devido ao consumo excessivo de carnes processadas, na atualização das recomendações dietéticas no contexto de riscos e benefícios à saúde. Acho que é preciso informar, e deixar que cada um decida por si.
Pra quem quiser saber mais sobre o assunto, aqui está o comunicado à imprensa divulgado pela OMS na segunda feira 26 de outubro e aqui as perguntas e respostas mais frequentes.