Na época que eu estava na escola, quase todo mundo era magro. Lembro que, na minha sala, só um menino e uma menina estavam aparentemente à cima do peso. Digo aparentemente porque nunca perguntei o peso e altura deles para colocar em uma curva e ver se realmente estavam fora da faixa de normalidade.
Hoje a realidade das escolas é outra. E a mentalidade das crianças também. Estudos recentes mostram que fazer dieta para controlar o peso é uma prática muito comum, tanto em mulheres adultas como em adolescentes, que tem começado cada vez mais cedo, antes mesmo da puberdade, sendo mais prevalente em meninas do que em meninos. Estudos mostram que 40% das meninas entre 7 e 9 anos de idade estão insatisfeitas com seus corpos e já tentaram fazem dieta para perda de peso.
Além da influência da mídia, da ditadura da beleza e da magreza, das fotos e vídeos completamente modificados, das lindas e magras princesas da Disney ou bonecas Barbies, as crianças também são muito influenciadas pelos valores culturais dos pais, principalmente das mães, que transmitem às suas filhas conceitos em relação ao peso, forma e aparência.
O comportamento alimentar da mãe, assim como seus problemas em relação à comida influenciam os problemas alimentares e a dieta de suas filhas. Além disso, um estudo realizado com crianças de 10 anos de idade mostrou que mães que fazem restrições alimentares têm filhas que também fazem restrições alimentares. Outro estudo, realizado com crianças entre e 9 e 11 anos, encontrou como principais estratégias para perda de peso evitar alimentos engordativos e pular refeições . O primeiro método se encaixa nas práticas de promoção à saúde, porém, o segundo pode ser muito prejudicial à saúde das crianças podendo coloca-las em risco para desenvolver transtornos alimentares.
O problema é que as crianças não sabem exatamente o que é saudável e o que não é. Não sabem quais práticas são eficazes para o controle do peso em longo prazo e quais não são, o que as leva a utilizar tanto estratégias que promovem a saúde como estratégias que a comprometem. Além disso, a privação de certos nutrientes pode prejudicar o crescimento e desenvolvimento das crianças.
Um estudo que teve como objetivo investigar as ideias, conceitos e crenças que meninas de cinco anos de idade tinham em relação às dietas concluiu que filhas de mães que faziam dieta com frequência ou tinham realizado alguma dieta recentemente tinham mais do que o dobro de probabilidade de articular essas ideias, conceitos e crenças. O mesmo aconteceu com filhas de famílias com histórico de sobrepeso em comparação com famílias de peso normal.
A preocupação que as meninas tinham com seu peso não vinham de suas ideias em relação às dietas, mas sim da preocupação que suas mães tinham com o peso corporal. Esses achados indicam que as dietas praticadas pelas mães, além do potencial efeito em sua saúde e peso corporal, também influenciam as ideias emergentes sobre dietas em suas filhas pequenas. Ou seja, crianças cujas mães praticam dietas estão mais expostas às preocupações em relação ao peso e insatisfação corporal, podendo influenciar nas preocupações com seu próprio peso.
As evidencias mostram que as meninas estão aprendendo conceitos sobre dietas muito cedo, o que nos fornece um impulso extra para desencorajar as mães a utilizarem estratégias prejudiciais à saúde no intuito de perder peso.
Então, como agir? Sabemos que, infelizmente, não vai ser tão rápido que o mundo vai parar de fazer dietas. (Se você ainda não me conhece, e não entendeu uma nutricionista contra dietas, dá uma olhada nesses posts). E as crianças continuarão a internalizar e repetir o que as mães falam e fazem, por mais que não entendam direito o que aquilo significa.
Por isso, o meu apelo aqui é: CUIDADO com o que você fala na frente dos seus filhos. Quando você reclama que está gorda, que não gosta da sua barriga, que determinados alimentos engordam, os pequenos estão ouvindo. Não importa a idade, eles estão prestando atenção, e estão aprendendo com você.
Quando estiver fazendo dietas, procure reforçar sempre as práticas promotoras da saúde, como aumentar o consumo de frutas e hortaliças, trocar as bebidas açucaras por água ou sucos naturais, fracionar as refeições e incentivar a prática de atividades físicas. Essas estratégias podem ter efeitos positivos tanto no seu peso e estado de saúde como dos seus filhos.
Ouço muitas mulheres falando que ‘fazer sacrifícios pelos filhos é fácil’, então espero que, a partir dessas informações, as mães evitem o uso de estratégias prejudiciais à saúde a fim de emagrecer (como pular refeições e restringir a alimentação) e procurem abordagens mais saudáveis para controlar o peso.