Ser nutricionista é ouvir as pessoas pedindo sua opinião o tempo todo. Quase que como ser mãe, mas não só com seus filhos. O que eu como, o que eu não como, como eu faço pro meu filho comer mais/melhor, como eu faço pro meu filho comer menos/melhor… E aí quando você responde vem aquela cara de dúvida.
Por exemplo, seu filho está te tirando do sério na hora da refeição. É só você chama-lo pra mesa que ele vira a cara, diz que não quer comer, joga a comida pro alto, aquela confusão toda! Aí eu oriento respeitar a vontade da criança. Se ele não quer comer na hora do almoço, não precisa, e a próxima refeição será realizada NORMALMENTE. E a mãe me responde, mas tadiiiiiinho do meu filho. Vou deixa-lo passando fome? Ele não vai ficar doente? Sofrer?
CALMA
Respira e não pira.
Esse deixar sem comer, nada mais é do que uma maneira de estimular o apetite. Você já deve ter ouvido alguém falar que o melhor tempero é a fome, não é mesmo? Se as crianças não tiverem um intervalo de tempo razoável entre uma refeição e outra, sem tomar suco, sem comer balas, sem petiscar – apenas água – o apetite não vem. Isso é normal. Fisiológico. Acontece com você também.
O importante é não tratar esse tempo sem comida como um castigo. “Se você não quiser comer agora, vai ficar sem comer O DIA TODO”. Isso não existe. As crianças são pequenos adultos, se use de exemplo. Às vezes você tem uma reunião às 10h que demora mais que o esperado, aí você acaba comendo uma bolachinha, fruta, ou qualquer coisa que eles te oferecem. Consequentemente, quando chega na hora do almoço você não está com tanta fome e come menos que o normal. Lógico que você vai sentir uma fominha a mais durante a tarde, e isso não significa que você precisa sofrer e quase desmaiar porque só merece comer de novo no jantar. Você pode fazer seu lanche normalmente, e é isso que deve ser passado pras crianças.
“Filho, você já está satisfeito? Mesmo? Porque vai demorar um pouco até a hora do lanche e até lá você pode ficar com fome…” E aí você engole aquela vontade de insistir por mais uma colherada, de pensar que seu filho mal tocou na comida que você passou a manhã preparando, respira fundo e sorri. “Tudo bem, não quer mais não precisa, mas espera a gente terminar de comer pra sair da mesa”.
Se, em vez disso, você ameaçar seu filho, tentar coagi-lo, estará passando pra ele que não comer, ou não comer tanto quanto os pais gostariam, é errado. Mais uma vez ensinando que ele precisa agradar aos outros em vez de respeitar seu corpo, sua fome (mais sobre esse assunto aqui).
Agora vamos para o cenário no qual você respeitou a decisão do seu filho. Passou uma hora e aquelas mãozinhas foram atrás de comida, afinal, a última refeição não foi suficiente e a barriga começou a roncar. Sem levantar a voz, explique que o lanche será servido em duas horas e que agora não é hora de comer. Passam mais alguns minutinhos e seu filho reclama novamente, chora, diz que a barriga está doendo e você continua explicando calmamente que ele está sentindo fome porque não comeu bem na refeição anterior, e sugere que vocês façam outra coisa para distraí-lo.
Se logo depois que seu filho reclamar de fome você conforta-lo com uma mamadeira (ou qualquer outro alimento) você está passando pro seu filho que:
- Com um pouquinho de manha ele consegue o que quer
- Se ele não quiser comer a comida tudo bem porque depois tem mamadeira – ou o que quer que seja
Como pais, é tarefa de vocês apresentarem desafios para os seus filhos. Novos alimentos, sabores, texturas e combinações. Do leite eles já gostam, e tem momento certo pra aprecia-lo, assim como tem momento certo pra comer comida e pra comer lanche.
Por isso, na hora do lanche, deve ser servido lanche, como sempre. Não um lanche reforçado, ou o prato de comida que a criança rejeitou no almoço. Lembre-se, não é uma punição. Ele não quis comer e foi respeitado. Agora, você decide o que acha importante seu filho comer no lanche, e se a quantidade for exagerada, ele pode não ter fome novamente no jantar. Cuide para que o lanche seja suficiente para forrar o estômago, mas não para deixar seu filho sem fome pelas próximas quatro horas.
O deixar sem comer não é tortura. Não é castigo. Não é ameaça e ter de encarar diversas vezes o prato rejeitado. Deixar sem comer nada mais é do que respeitar o apetite do seu filho e as regras da casa, tudo ao mesmo tempo. Na verdade, o deixar sem comer é educar. É ensinar que existe hora pra tudo. Hora pra comer, pra brincar, pra dormir. Não da pra dormir no meio da tarde, brincar de madrugada e comer a qualquer hora. É preciso ter rotina, ter disciplina. Cada refeição é estruturada de uma forma, e sobremesa não é prêmio. Sobremesa é a fruta que vem depois do prato de comida. Independente do quanto a criança comeu. Deixar sem comer é respeitar seu filho e ensina-lo a entender os sinais do seu corpo. Sinais de fome, de saciedade, quanto eu preciso comer pra aguentar até a próxima refeição?
Não é fácil rejeitar comida pra um filho. Na verdade, nenhum não é fácil em se tratando de filhos, mas são necessários. Precisamos impor alguns limites nas crianças, e isso é para o bem delas.
Às vezes, quem tá errando somos nós. Oferecendo um lanche grande de mais ou imaginando que a criança não está comendo o suficiente quando na verdade nós é que colocamos comida exageradamente. Para evitar isso, recomendo a leitura desse post.
Por hoje é só pessoal, beijo grande.
Minha filha de 9 anos não aceita comer nenhum legume ou verdura. Coloco uma pequena quantidade do legume e verdura no prato junto com a carne, o arroz e o feijão e toda vez que ela tenta comer gospe ou vomita. Guardo a comida dela e digo que quando ela estiver com fome poderá comer a comida do almoço. Gostaria de saber se estou no caminho certo.