RESGATANDO O PRAZER DE COMER 2

“Deve-se mastigar muito devagar. Se as papilas gustativas, que são as responsáveis por propiciar o paladar, estão apenas na boca, por que engolir o alimento tão rapidamente? A ideia que se tem é de que, por algum motivo desconhecido, as pessoas detestam sentir o gosto dos alimentos. Por mais que digam que adoram o que quer que seja. Será que quando crianças elas foram obrigadas a comer o que não queriam e criaram essa defesa de engolir para não sentir o gosto? O fato é que as pessoas se alimentam mais por compulsão do que por prazer. Quando percebem, já engoliram.”

Este parágrafo foi tirado do livro A Semente da Vitória, do incrível Nuno Cobra, e me fez pensar… Tanto que estou escrevendo um post baseado nele.

Desde pequenininha ouço minha mãe falando que “comer com culpa engorda” e que “temos que saborear os alimentos”. Ela me ensinou a colocar um chocolate na boca e esperar derreter, lentamente, sentindo cada pedacinho do prazer se espalhar… Quem diria que, mais de 20 anos depois, eu aprenderia que minha mãe estava certa?

Lembro que, quando eu era menor, ficava indignada com pessoas comendo sozinhas em restaurantes. Sempre pensava “nossa que coisa triste e solitária”. Mais velha, no horário de almoço do trabalho, não me importava em sair para almoçar sozinha. Afinal, meu celular estava sempre ali pra me fazer companhia. E comecei a perceber que minhas refeições duravam pouco mais do que 15 minutos.

As pessoas andam cada vez mais ocupadas, fazendo mil coisas ao mesmo tempo. Leem os e-mails no café da manhã, almoçam resolvendo pepinos, fazem o lanche dirigindo no caminho para a academia… As refeições viraram secundárias, como se tudo fosse mais importante do que comer, essa coisa chata que temos que fazer 5 vezes por dia. Quando, na verdade, deveriam parar tudo e aproveitar esse momento de prazer com 100% da atenção.

Sempre vi meu pai tomando café e lendo o jornal, achava aquilo tão adulto. Hoje penso, mas que coisa! Nem na hora do café da manhã (uma das refeições mais gostosas a meu ver) meu pai tem sossego. Começa o dia já lendo as tragédias e enfiando o pão goela a baixo.

Que exemplo estamos passando às crianças quando levamos o celular/tablet para a mesa de jantar? E depois, quando eles pedem para comer vendo televisão, dizemos que não pode. Sabia que até hoje tem mães que não deixam mais por medo de sujar o sofá do que por saber que comer em frente à tv não é legal?

O momento da refeição é um momento importante. É quando estamos repondo as nossas energias e é um dos maiores prazeres da vida. Não deve ser feito às pressas, não deve competir com tela nenhuma. O momento da refeição tem que ser calmo e agradável. Sem tv ligada, sem rádio, sem celular, tablet, joguinhos. Se houver música, o volume deve ser baixo, e a melodia suave. As brigas e discussões devem ser deixadas para outra hora.

É preciso prestar atenção no que estamos comendo. No sabor, textura, temperatura. Tentar perceber quando estamos começando a ficar satisfeitos, quando já estamos satisfeitos e evitar comer demais até ficarmos estufados depois. É um exercício. Tire tudo da mente quando for se alimentar e se conecte com o seu prato. Aproveite este momento.

Existem duas maneiras de saborear uma bala por exemplo. Têm as pessoas que mordem, e acabam com ela em poucos minutos, e têm as pessoas que chupam até ela derreter inteirinha. É a mesma bala, o mesmo tamanho, e uma pessoa pode curtir o sabor infinitamente mais do que a outra.

Pense nisso. Tente fazer uma refeição prestando atenção no que está comendo, saboreando cada mordida, e veja a diferença. Estimule seus filhos a falar sobre os alimentos. Se é crocante, molengo, amargo, doce ou azedo. Peça para eles fecharem os olhos e tentarem adivinhar o que tinha na colherada. Pare, no meio do prato, e pergunte: de zero a dez, quão satisfeito você está? Repense a porção que você serve normalmente. Tanto para seus filhos, como para você.

E lembre-se: as crianças estão sempre nos observando e copiando. Seja um bom exemplo!